Um abraço apertado na alma de quem já se foi. O calor imenso e estranho da carne espiritualizada. Não sei se chorava de felicidade ou ria de tristeza. Um banco e sentamos frente a frente. Estabilizei-me:
- Que bom te encontrar tão real em meu sonho, vovó!
- E quem disse que é um sonho, meu filho? - com a mão no meu ombro, sorrindo.
- Uai, vó! Acho que essa é a única forma de nos encontrarmos tão real e íntimo assim, não concorda?
- Depende para quem vê. Quando encontra no céu apenas uma estrela, não acredita que ela seja eu? É tudo uma questão de visão. Mas não há como explicar isso a você da clareza que esperas.
- Não é importante também. Não sabemos quanto tempo temos, sejamos objetivos. Já completa mais de um ano que você se foi e, de lá pra cá tudo está tão embaçado, sem graça, sem brilho. Por quê?
- É o ciclo da vida... O meu chegou ao fim. Mas isso não significa o fim aos que ficaram. E a sua menina?
- Apareceu em minha vida como uma estrela mandada por ti, brilhando ao máximo. Um anjo, uma verdadeira estrela-guia. Apareceu poucos meses de teres partido...
- Que bom meu neto, você merece!
- Mas também já partiu... E me partiu em vários pedaços. - um nó na garganta. - Por que as pessoas se vão assim?!
- Ciclo da vida também, filho... Dói? Dói, mas...
- Enfim. A vida segue, não é verdade Dona Esmeralda?
Após o silêncio, e um sorriso tímido da senhora, ele complementou:
- E eu aqui na Terra, estou fazendo bem o meu trabalho de honrar o seu nome?
- Não sou eu quem responderá isso, meu filho. A sua consciência é a resposta.
E foi-se distanciando de mim. Fiquei sem reação, apenas fitando-a. Apenas com a certeza de que tudo aquilo nem era ilusão.
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