Todos os dias, a caminho para casa, depois de mais um dia cansativo de trabalho, o medo me acompanha a certa parte do caminho. Caminho esse que traço a pé, a mais ou menos 23:30 ou mais...
Apesar de ser uma cidade pequena, com baixo índice de criminalidade, etc, há os mesmos problemas sociais que deduzo ter em qualquer cidade nacional: pessoas que não tem onde dormir, viver, que fazem das ruas sua moradia. Pessoas sem endereço fixo, andarilhos, mal vestidos, sobrevivendo em um mundo, dadas as condições, triste de se ver.
E no trajeto até a porta de casa me deparo com a vida noturna de Paulínia. Tem de tudo. Bêbado andando conforme a ponta de seu dedão o direciona; Garotas de programa de luxo, outras quase peladas e até as que não tem o que vestir mesmo(claro, em pontos diferentes, afinal até no ramo da prostituição existe uma hierarquia social, analisando apenas o que eu vejo); Pessoas voltando da balada, ou brigando. Nada que me amedronta, cada um na sua. O que me amedronta são situações corriqueiras de passar em lugares inóspitos, sem nenhum tipo de iluminação e um ser vindo em direção oposta. Sempre me vem a mente de que tudo estava programado, e eu me sinto encurralado e rendido ao que tiver de dinheiro na carteira. Tudo se torna estranho até àquele ser, que sempre me deixa a sensação de estar olhando pra mim, chegar até a mim.
Muitas vezes pedem dinheiro, outras poucas são pessoas transitando, como eu.
Há um que sempre pede, porém a cada dia tem um nome. Sua aparência não é das melhores, e seu olhar denota seriedade. Já me apresentou como Thiago, Rafael, e quem sabe não chamará Danilo amanhã. Possui uma certa dominância em sua fala, chega de mansinho, querendo apertar a sua mão. Sem usar gírias, tenta iludir quem para ouvi-lo a tirar um dinheiro do bolso, pagar um lanche, ou quem sabe dar um pouco do refrigerante que segura na mão.
Já encontrei com ele e já experimentei as duas situações: abrir a carteira e dar dinheiro; e também de dizer "hoje não tenho mano...".
Das duas, tudo correu bem. Não dei porque não tive, e quando dei não foi tanto assim. Não reagiu, não esboçou nenhum tipo de ameaça.
Mas o que fica de ruim é passar sempre pelo mesmo caminho, todos os dias, e ter a sensação de que meu trajeto possa estar sendo mapeado por esses mendigos.
No caso acima, exemplifiquei exclusivamente um, mas a realidade é que no mínimo são sempre 3 e na sua maioria, separados.
Fico pensando se sempre será assim, ou se as coisas irão se deteriorar a cada dia mais... Nunca se sabe o que pode sair dessas pessoas, ou se daqui a três, quatro dias apareçam mais mendigos naquela área com índoles distintas e mais violentas.
O caminho até a minha casa custa-me uns 40 minutos, mas é sempre o mesmo ponto que a minha atenção se multiplica. Sem pestanejar, nunca abaixo a cabeça, passo sem olhar mas olhando firme em direção reta. Sempre paro para ouvir, acho que não custa nada. Posso estar pecando pela minha inocência, mas faço isso por achar humano ouvir outrem, e não vou deixar de fazer.
Se um dia acontecer algo, talvez agirei diferente. Mas enquanto isso, é só apenas uma constatação. Difícil eu dizer que desejo que tudo melhore para esse pessoal. Porém a realidade nos dá a dimensão de que tudo possa piorar.
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