sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Parte 1

Dia 29 de Setembro de 2010, uma quarta-feira. Dia de jogo de futebol na tv, na qual não perdia nenhum. Dia pra quem sabe, comemorar mais uma vitória do mengão. Ou lamentar uma derrota, ou empate. Dia de simplesmente não desgrudar os olhos da tv.

Mas nem teve nada disso, pelo menos nesse dia. Não lembro como acordei, nem como passei o dia trabalhando: se estava bem, se estava triste, não lembro de nada que aconteceu neste dia. Não sabia de nada até chegar em casa a noite. Cheguei cansado. Quarta era dia de serviço pesado: descarregar caminhão, separar mercadoria, conferir integridade dos produtos,etc.

A única coisa que me lembro era que, mesmo estando cansado, cheguei em casa com um semblante agradável, meio animado, com vontade de ser feliz. Mas não era aquele dia que eu ia conseguir tal feito. Esse era o dia em que meu coração morrera. Não sei definir qual o horário era, apenas que saí do trabalho por volta de 20:00. Avistei apenas meu pai sentado no sofá, assistindo televisão, meio anormal para sua rotina de dormir antes das 20:00, mas nem me veio na cabeça isso. Procurei por todos os cômodos, antes de entrar no meu quarto, os outros membros da casa. Ninguém, casa vazia...

Tudo bem, todo mundo pode sair junto, ou combinar com o tempo de sair no mesmo horário, mesmo que pela rotina de minha casa isso seja meio difícil de acontecer.

Voltei ao cômodo onde havia o único membro da família, além de mim, naquele instante. Meu pai disse que minha mãe e a irmã mais nova tinham viajado para Uberlândia as pressas, pois minha vó tinha sido internada, estava mal. Na hora, não sabia no que pensar. Só perguntei se minha mãe tinha ido bem. Disse, enrustidamente: “Foi chorando né...”.

Por mais que eu saiba que minha mãe é uma figura frágil, naquele momento percebi que talvez as coisas estivessem perigosas. Mas eu ainda estava bem, como tinha chegado em casa naquele dia. E por mais que a situação estivesse “foda” naquele momento, não sei o que nutria a felicidade. Talvez a esperança de que tudo ia acabar bem... Eu realmente não sei...

Depois disso, não sei mais o que fiz nesse dia... Só lembro do momento que minha irmã ficou no meu quarto, deitada na minha cama, enquanto eu mexia no computador e conversava com ela assuntos triviais... Depois, comecei a jogar, e isso já poderia ser por volta das 23:30.

O ambiente, aquele horário, favorecia a apreensão...Sem notícias de nada, minha mãe provavelmente não tinha chegado ainda, estava em viagem.

Mais ao começo do madrugada, uma ligação. Deve ter tocado apenas uma vez, e logo já atendi. Era meu tio. Nenê. Perguntou de minha mãe, e meu pai...Perguntei se era preciso acordar ele, e aí veio a notícia.

“Não... Fala pra ele que...Ela já foi, não aguentou.”

Pausa. Frio. Vazio. Fiquei estático, sem acreditar na notícia que tinha acabado de ouvir.

Ouvir alguns sussurros de meu tio, tentando se controlar. Na hora tentei me mostrar bem, pelo menos para dizer a única coisa que veio na minha cabeça: “Tio, faz um favor pra mim...”,[...],”cuida da minha mãe quando ela chegar, tá?”. Meu tio respondeu apenas com um “Tá”, com voz de quem estava começando a chorar. E disse “tchau”.

Lembro de apenas descer a minha mão, lentamente, até a base do telefone para encaixá-lo. Durou uma eternidade até chegar aquela distância de 30cm no máximo. Enquanto que a outra mão estava no mouse, e ela foi instantânea ao “x” do jogo, onde, antes do telefone tocar, eu tinha acabado de passar da parte que eu me matava há 3 dias.

Após o encaixe do telefone, fraqueza. Me desabei na mesa do computador. Minha irmã instintivamente entendeu o recado, mas por talvez não acreditar, mesmo assim perguntou.

Por que? Vovó não podia morrer. E agora? Vovó estava relativamente inteira ainda. Pra que morrer agora? Pra que tirar a vida, justamente dela? Não...

As lágrimas não paravam, empoçavam a mesa, e eu não tinha mais nenhuma reação, muito menos vontade de levantar dali, e procurar um lugar que não me deixasse com dores vertebrais. Fiquei ali, um bom tempo. Lembrei de que tinha que buscar forças para avisar o meu pai da notícia. Minha irmã que não poderia fazer isso. Não consigo definir o momento mais difícil: ouvir a notícia ou ter que anunciá-la a alguém querido. Fui incumbido das duas, e as enfrentei. Fui segurando nos cômodos do meu quarto, na porta, na parede, mas fui! Abri a porta do quarto do meu pai, liguei a luz e comecei a chorar. Esperei ele acordar com o brilho da luz ao acender. Não demorou muito, digamos que alguns segundos. E disse. Apenas isso... Não tinha mais nada pra falar.

Enquanto isso, não conseguia perceber o que estava acontecendo ao redor. Só sei que voltei pro meu quarto e minha irmã já não estava mais deitada na minha cama. Foi então que eu mesmo encontrei lá o lugar pra preencher todas as minhas lágrimas. Choro, soluços, dor no coração, na alma...Era tudo, ali, na mesma hora, se confrontando a me deixar mais mal ainda. Quando de repente vem minha irmã, sentindo a mesma dor que eu, e me dá um abraço pra confortar-me. Não tinha como eu ficar bem, mas me fez sentir que estávamos, àquela hora, no mesmo barco de sofrimento. E que precisaríamos encontrar alguma força em algum lugar, sabe-se lá aonde...

Nenhum comentário:

Postar um comentário