Naquela época, ainda muito jovem, eu sentia um peso muito grande nas costas, mesmo que involuntariamente, de conseguir uma vaga na universidade. Sim, era totalmente involuntário, pois ninguém me cobrava isso. Não há como mensurar, mas talvez isso tenha me atrapalhado. Unicamp era o meu sonho, o meu destino a buscar, porém eu havia me inscrito no vestibular de minha cidade natal, também, onde lá possui uma instituição federal, a UFU, com bastante renome no estado mineiro. Além disso, também optei por prestar o ENEM onde, na época, ainda nem era integrado a vestibulares de instituições públicas.
As provas me fizeram perceber que, realmente, eu não tinha conteúdo suficiente para ingressar numa faculdade. Resultados: não passei da primeira fase da Unicamp; nem fui atrás da minha nota do ENEM; o vestibular da UFU era dois dias. Após o primeiro, não tive nem vontade de ir ao segundo dia, literalmente desistindo.
No ano seguinte, trabalhando no shopping, decidi juntar o dinheiro para, no próximo ano, dar entrada a um cursinho pré-vestibular, de um valor muito alto, para tentar me preparar melhor para os vestibulares. E assim o fiz. A jornada seria totalmente dura: trabalhar no estoque de uma loja de lustres, localizada num shopping com um volume gigantesco de pessoas e, dali, ir estudar a noite. Tudo bem, o trabalho seria árduo, porém recompensador no final, pensava eu.
E consegui. No ano seguinte da "poupança", consegui dar um valor de entrada ao cursinho para, assim, diluir a mensalidade em valores "pagáveis". Infelizmente, no meio do caminho, a rotina do trabalho me cansava muito, as horas extras me impossibilitavam de comparecer em todas as aulas, e eu sentia estar perdendo muito dinheiro. Infelizmente...
Mais infeliz ainda foi, no mesmo ano em que cursava o pré-vestibular, ter perdido minha avó. Acabei perdendo o controle e sentido total de viver. Me senti parado no tempo, esperando que, uma hora ou outra, ela retornasse e me fizesse acreditar que era apenas um sonho. Perdi totalmente a esperança e, pior ainda, não sentia vontade de mais nada. Com isso, acabei perdendo o prazo para pagamento do boleto do vestibular da Unicamp, o único no qual havia me inscrito naquele ano, e abandonei o cursinho. Simplesmente não ia mais as aulas, mas cumpri até o final com o dever financeiro das parcelas. Por aí, desisti de tentar ingressar em uma universidade. Esse conformismo nunca foi totalmente engolido por mim mesmo. Me sentia alguém que estava decepcionando muitas pessoas ao meu redor. E carreguei isso comigo, silenciosamente, até os dias de hoje....
Voltemos aos tempos atuais. Em 2015, estabeleci a meta de prestar o ENEM, após tantos anos, para tentar buscar uma média mínima de 600 pontos das notas, visando uma bolsa no programa "Ciência sem Fronteiras". A faculdade na qual havia ingressado há três anos tinha convênio com o programa, portanto conseguiria satisfazer este objetivo. A meta foi estabelecida, porém não busquei em nenhum momento estudar. E assim o fiz: não estudei nada. No dia da prova, me senti muito mais centrado, sereno, focado do que há 7 anos atrás. A experiência vivida por todos esses anos havia me dado tudo isso. Saí de lá com toda a certeza de que havia feito o melhor que pudesse, trabalhado a leitura das perguntas e a redação na maior consciência possível. Saí dali sabendo que a média de 600 pontos era uma realidade.
E consegui! Foi por pouco, mas consegui. As disciplinas das quais tenho menos simpatia quase me afundaram. Porém a nota da redação, muito acima da minhas outras, acabaram compensando as de Física e Química.
Lembrando: a minha meta era apenas o "Ciência sem Fronteiras". Porém, por curiosidade, e familiaridade por pessoas próximas estarem prestando vestibular para buscar uma vaga pelo sistema SISU, resolvi eu me cadastrar também. "Por que não?! Não tenho nada a perder."
Logicamente que, para as instituições públicas de mais renome e concorrência, eu não tinha tantas chances assim. Porém minha nota na redação, por ter peso 2 ou, dependendo da instituição, peso 5(!), minha média subia de forma satisfatória. Assim, me vi empolgado com a ideia de ingressar em uma instituição pública, de ótima reputação, mesmo que sem pretensão nenhuma.
Além disso, busquei lutar por uma bolsa de estudos através do Prouni.
Resultado final: consegui uma bolsa de 50% do Prouni em outra instituição, e manifestei meu interesse a lista de Espera na primeira opção do SISU. Ainda que sem muita esperança, mas após pesquisas feitas sobre resultados da lista de espera de anos anteriores e as respectivas notas dessa mesma instituição, fui tomado por uma esperança maior. Maior ainda do que minha ansiedade do dia anterior da divulgação da lista de espera, a esperança se encheu no dia da divulgação. Ainda não estava na colocação onde automaticamente já me garantia uma vaga restante, mas muito perto disso.
E consegui, realmente consegui! Uma vaga no Instituto Federal de São Paulo.
Naquele momento, fui tomado por uma sensação de alegria e nostalgia, onde me vi realizando um sonho de criança ainda adormecido em mim. Além disso, a lembrança de minha avó palpitava em minha mente. Com toda a certeza essa vitória é totalmente dedicada a ela: Esmeralda Cândida de Moraes. Tirei um peso das minhas costas, um dos que nunca tive coragem de usar para me vitimizar, um peso que eu já me culpei, silenciosamente, por todo esse tempo. Eu me sinto bem mais aliviado, confesso.

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